Sam Taylor-Johnson vinha trabalhando em segredo durante meses quando ela finalmente teve uma oportunidade de mostrar um preview do seu novo filme para Beyoncé.
A diretora, nascida em Londres, está fazendo um dos filmes mais esperados de 2015, uma adaptação do romance best-seller de E. L. James “Cinquenta tons de cinza“, o primeiro de uma trilogia que se tornou um fenômeno editorial em 2011 e teve em maior parte o público feminino na qual 100 milhões de leitores leram o livro erótico.
Ano passado, Taylor-Johnson levou cenas do filme para a casa de Beyoncé em Los Angeles para que a estrela pop pudesse ver como sua música iria apoiar o drama quente sobre uma recém graduada em literatura, Anastasia Steele (interpretada por Dakota Johnson) que entra em um relacionamento sexualmente submissivo com o jovem bilionário enigmático Christian Grey (Jamie Dornan).
“Quando a cena começou, não havia contexto“, diz Taylor-Johnson sobre a amostra que ela compartilhou com Beyoncé. “Não houve a cena da entrevista nem do café, era apenas tipo, aqui está uma cena de sexo explícito, oi, prazer em conhecê-la… de repente me recuei. E então, de repente, pensei ‘isso é realmente explícito e eu nem sequer conheço essa mulher.”
Taylor-Johnson irá compartilhar essas cenas com um público muito maior em breve, quando “Cinquenta tons de cinza” chegar aos cinemas em 12 de fevereiro.
Assim como Star Wars e inúmeros filmes de histórias em quadrinhos, o filme tem um público fervoroso e especial para agradar. Originalmente auto-publicado como uma fanfic de Crepúsculo, o livro literalmente brotou do mundo de um fandom ávido e, em sinal do quanto os fãs estão ansiosos para o filme, o trailer foi o mais visto 2014, acumulando 93 milhões de visualizações no YouTube desde sua estreia em julho.
Falta de experiência?
Taylor-Johnson trata desse projeto com uma visão artística distinta, particularmente sobre a política sexual do filme e algumas experiências valiosas – seu trabalho anterior foi em 2009 com a cinebiografia de John Lennon em “Nowhere Boy“. Mas com apenas um filme independente em seu currículo ela não seria a candidata mais óbvia para dirigir um filme de grande estúdio comercial.
“Lembro de quando um dos produtores [de Cinquenta tons de cinza] falaram para mim: ‘Você pode lidar com fazer um filme que possui uma grande base de fãs?‘”, disse ela. “Lembrei-lhe que eu fiz um filme sobre um dos integrantes dos Beatles. E foi uma situação semelhante logo que o processo de escalação começou – todo mundo começou a opinar sobre, você tem que fazer isso e você não pode fazer isso. Portanto deve haver algum sentido de precisar de um desafio que eu jogo em cima de mim.”
Pequena, com um pouco de cabelo cor-de-rosa, Taylor-Johnson, de 47 anos, não é de falar muito mas é direta. Ela projeta uma calma – talvez se trata se sua prática de meditação transcendental ou talvez seja porque ela passou muito tempo em salas escuras recentemente conversando com executivos.
Antes de se tornar cineasta, Sam Taylor-Johnson era artista visual que possuía um talento natural para capturar homens em seu momento mais vulnerável. Ela é, talvez, mais conhecida como fotógrafa do “Crying Men“, uma série de atores chorando de 2004 que inclui Robin Williams, Laurence Fishburne e Dustin Hoffman. Encomendada pelo London’s National Portrait Gallery para fazer um vídeo portrait de David Beckham, ela optou por fotografar a estrela de futebol dormindo. Depois de dirigir curtas – incluindo um sobre um homem se masturbando no deserto – ela fez “Nowhere Boy” que descreve como Lennon foi moldado por duas mulheres poderosas em sua vida, sua mãe e sua tia.
Do outro lado, Cinquenta tons retrata uma relação quase que primitiva entre homem e mulher, com um homem poderoso parecendo controlar uma mulher jovem e impressionável. No auge da popularidade do livro, um segmento do programa “Today” explorou sobre a violência contra as mulheres e um artigo da Newsweek sugeriu que as mulheres capacitadas estavam lendo isso porque ser chefe de casa ficou chato.
O objetivo de Taylor-Johnson foi de encontrar as nuances do relacionamento.
“O livro me atraiu porque era uma história de amor sombria e trágica“, ela disse. “Tinha uma abordagem distinta com uma sensação de que ela era capacitada mesmo que ela estava em um lugar onde ela poderia ser vista como uma vítima, e mesmo que essa relação é sobre dominação e submissão, queria tê-la como uma jornada igual para ambos. É muito complexo, e eu constantemente me sinto como se estivesse na ponta de uma faca.”
A vida pessoal de Taylor-Johnson reflete a sua vontade de ir contra todas as convenções – em 2012 ela se casou com Aaron Johnson, ator inglês que ela havia escalado como Lennon em “Nowhere Boy”, quando ele tinha apenas 19 anos e ela 42 e que agora se chama Aaron Taylor-Johnson. Ela tem quatro filhas, duas com Taylor-Johnson e outras duas de um casamento anterior com Jay Jopling.
Ela e sua família de seis pessoas se mudaram de Londres para Hollywood enquanto ela faz Cinquenta tons de cinza. “Há muito espaço, o céu é grande e há muito sol“, disse ela sobre viver na Califórnia. “Tenho um estilo de vida mais calmo aqui, porque não posso ter uma vida louca e trabalhar em um filme louco.”
Boas práticas
A corrida de Taylor-Johnson para Cinquenta tons teve um começo abrupto. Ela havia conversado com um dos produtores do filme, Michael De Luca, sobre um outro filme que ele estava planejando quando ele pediu-lhe para comparecer em uma reunião para dirigir o livro de James em uma das propriedades mais quentes da região. Ela assumiu que ela era um tiro no escuro para um projeto de perfil tão alto – outros diretores da Univeral Pictures estavam sendo considerados, como Joe Wright, Bennett Miller e Steven Soderbergh.
“Meu agente disse que seria uma boa prática para mim“, Taylor-Johnson disse. “Era uma sala lotada com 15 pessoas. Foi muito intimidante. Tinha ideias de músicas e algumas luzes. Levei um vídeo curto. Realmente trabalhei para me certificar de que fosse levada a sério. No dia seguinte, eles me chamaram às 8 da manhã e disseram: ‘Você conseguiu o trabalho e estaremos anunciando na hora do almoço.’”
James também foi uma das produtoras. A autora estava na sala quando Taylor-Johnson fez seu primeiro passo para o trabalho e ela tinha aprovado o roteiro de Kelly Marcel, o elenco, o guarda-roupa, que levou a discussões acaloradas, disse Taylor-Johnson.
Para uma cena, a diretora queria mudar o vestido apertado descrito especificamente no livro. “Eu disse que não era certo para essa cena porque ela não seria capaz de dançar em um vestido tão apertado“, disse Taylor-Johnson. “E todo mundo entrou em pânico.” (No final, ela ganhou, o vestido esvoaçante está no filme).
Para escalar Anastasia, um tanto quanto improvável, ela teve algumas atrizes para ler um monólogo intenso, de quatro páginas, do filme de 1966 de Ingmar Bergman, “Persona“, antes de decidir por Johnson, a atriz e modelo que é filha de Melanie Griffith e Don Johnson.
“Considerando o mundo que ela cresceu, Dakota tinha uma sensibilidade muito ingênua e doce, mas ela tinha essa força interior e poder que emana na tela“, disse Taylor-Johnson sobre a protagonista. Depois de um ator anterior, Charlie Hunnam, que desistiu completamente do papel, o ator irlandês Jamie Dornan, conhecido principalmente por seus papéis na tv e como modelo, foi escalado como Christian Grey por causa da sua força de química com Johnson.
Com um orçamento de cerca de 40 milhões de dólares, Taylor-Johnson começou a recriar o estilo de vida luxuoso de Grey, incluindo seu helicóptero pessoal, ternos cinzas e um quarto vermelho, onde ele guarda seus chicotes.
Um último desafio foi garantir uma classificação R da Motion Picture Assn. of America’s sem sacrificar o calor que ajudou a tornar o livro um sucesso.
“Eu venho editado de um modo que me sinto orgulhosa“, Taylor-Johnson disse. “É safado porém elegante. É bem balanceado: um mamilo dela, uma parte da bunda dele.”
O estúdio ainda não anunciou se vão fazer o segundo e terceiro livros. Ela está ansiosa para que o público finalmente possa ver o que ela manteve escondido de quase todo mundo, menos Beyoncé.
“Quando a cena terminou, Beyoncé disse: ‘Uau, isso foi quente.’“, Taylor-Johnson disse. “Então eu pensei, ‘Ok, isso foi divertido. Foi um bom dia no escritório.’”
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