Kristen Stewart é famosa por – não, risca
isso. Famosa é uma palavra muito gentil
para descrever o que Kristen Stewart é
agora para a história da cultura
americana. Kristen Stewart é um
fenômeno por interpretar a garota nos
filmes da saga Twilight, só que, claro, ela
interpretou o menino. Esse é o segredo da
atração da franquia: É uma nova versão de
Romeu e Julieta, exceto – e aqui está o
motivo pelo qual o material é tão novo –
ele é Julieta e ela é Romeu. O Edward
Cullen de Robert Pattinson é o objeto de
desejo e também a Fera que também é a
Bela. É a Bella Swan de Stewart que bota
um fim em sua solidão e supera os
obstáculos físicos e metafísicos em seus
caminhos, convertendo para o
vampirismo, para então poderem ficar
juntos por toda a eternidade.
Enquanto estamos no assunto de segredo
de atração, aqui está o de Stewart: Ela é
uma adorável garota que possui tanto
uma inteligência sentimental quanto a
profundidade dos sentimentos, ainda
assim, num piscar de olhos, ela pode se
transformar em uma jovem garota quente
e durona que está pronta para a ação,
chutes, qualquer coisa. A primeira
personalidade, delicada sem ser fraca, é o
motivo pelo qual ela é tão comovente nos
filmes como Na Natureza Selvagem,
Adventureland e Na Estrada, o par
perfeito para Emile Hirsch, Jesse
Eisenberg, Garrett Hedlund e Sam Riley. A
última personalidade, tão segura que se
torna arrogante, com bordas de
machismo, é o motivo pelo qual ela
consegue conduzir os olhares de puro
desejo para Dakota Fanning em The
Runaways. É o motivo pela qual ela
consegue conduzir, também, o papel de
Joan Jett, a mulher que provou que você
não precisa de um pênis para arrasar,
você só precisa afinar a guitarra, escorar
essas coisas e criar um som que pula das
caixas de som, com urgência, cheia de
vitalidade e agressão.
Okay, então essa é Kristen Stewart, a
estrela do cinema e símbolo sexual.
Eu encontro-me com Kristen Stewart, a
pessoa, no final de uma segunda-feira em
junho em Culver City. Nós vamos nos
encontrar no estúdio do artista Ed Ruscha.
Eu sou da costa leste e o trânsito de Los
Angeles me deixa assustada, então chego
meia hora mais cedo. Quando Stewart
aparece, um minuto para o horário, eu
estou conhecendo o quarto de um homem
cheio de bugigangas de Marilyn Monroe;
dois cães, os dois chamados Lola; e fotos
rasgadas de Jesus por Paul, irmão de
Ruscha. Stewart me liga dizendo que está
do lado de fora e eu vou abrir a porta.
A garota do outro lado pode ter feito uma
Joan Jett assustadoramente convincente,
mas é uma jovem Elvis Presley com quem
ela se parece mais: a mesma forma de
amêndoa dos olhos (seu verde vivo foi
substituído por um marrom para Twilight),
delineado preto, as pálpebras pesadas e
cobertas; a mesma cor da pele, um tom
branco e sem uma marca, tão sem poros
como o mármore; mesma boca, estreita,
mas cheia. Ela veste um jeans skinny bem
apertado, Vans e uma blusa com decote V,
óculos de sol na gola, o cabelo longo e
emaranhado, pintado de vermelho e com
a raíz escura. O look, totalmente sul da
Califórnia, é totalmente anti-glamour, mas
ela também pode minimizar seus recursos
naturais. Eu preciso te dizer que ela é
muito, muito bonita? E apesar de ter 24
anos, ela pode se passar por muito mais
nova – uma criança recém saída do ensino
médio.
Stewart e eu apertamos as mãos e eu
mostro a ela o local. Sua conduta é
tímida, nervosa, mas ela também parece
ansiosa para se comunicar. Não somente
com Ruscha, que entrou no local junto
com ela, mas também com a assistente de
Paul e Ruscha e as duas cadelas. Comigo,
também. A harmonia de Stewart com
Ruscha é natural e instantânea. Ele sabe
que ela apareceu na adaptação de Walter
Salles de On the Road, onde ela
interpretou Marylou, a “garota afiada” de
Dean Moriarty. Ele mostra algumas
edições de fine art do romance de
Kerouac – um dos favoritos de Stewart –
que ele criou alguns anos atrás, com
ilustrações para os textos. Conforme ele
foi virando as páginas, Stewart foi
nomeando os objetos e lugares: marcas
de cerveja e automóveis que não existem
mais, um pacote de cigarro – “Nós
fumamos tanto desses que achamos que
íamos morrer!” – um prato de torta de
maçã à moda da casa, a estrada do
Arizona e bordéis mexicanos. Ela não faz
isso de um jeito para se exibir, mas com o
prazer do reconhecimento de algo que a
move ou anima ela.
Depois que Ruscha fecha On the Road, ele
e Stewart continuam em um papo,
comentando facilmente sobre as coisas.
Eles estão conversando sobre um amor
em comum por vazamentos de luz em
fotos, quando eu tenho que quebrar o
momento, por causa de uma reserva para
12h15min e eu prometi para a publicista
de Stewart que não tomaria muito o seu
tempo.
Stewart e eu entramos em seu Mini
Cooper, que na verdade é de sua mãe, e
partimos para um restaurante perto dali.
Antes de entrarmos, Stewart para em um
canto para um cigarro, que ela fuma
nervosamente rápido. Assim que
chegamos à recepção, eu entendo o seu
espasmo de ansiedade. Sua cabeça e seu
corpo estão curvados – ela está
praticamente propícia a invisibilidade – e
ainda assim, os olhos das pessoas vão
para ela como ímãs. Todo mundo encara.
Digo, todo mundo mesmo. Até as pessoas
que parecem que não estão encarando,
estão. É nesse momento que eu percebo –
novamente, devo dizer, já que eu sabia
antes de conhecê-la, mas esqueci depois,
por ela ser tão modesta, tão discreta,
bem, tão normal – a quão celebridade de
liga principal que ela é. Percebo também
que ela deve viver muito tempo da sua
vida na misericórdia de estranhos. Por
exemplo, se um de nossos camaradas
decidirem acabar com seu disfarce ligando
para uma revista de fofoca (hey, isso é Los
Angeles, as pessoas devem ter esse tipo
de número na discagem rápida) ou
tweetar “OMG, KStew está no Akasha em
Culver Blvd!!!”, nós teríamos que ir
embora e com fome. A recepcionista nos
levou até uma mesa discreta na parte de
trás do restaurante. Um garçom deixa os
menus e água e Stewart ocupa a cadeira
de frente para a parede, com as costas
para o local. Assim que está claro que
estamos sozinhas e que ninguém irá nos
perturbar, ela relaxa, tira o cabelo de seu
rosto e solta a respiração que ela estava
prendendo desde que entramos.
Por um ou dois minutos, nos conversamos
sobre a esquisitice que é ser ela.
“Então, basicamente, você nunca pode
olhar para as pessoas.” Eu digo.
“Eu sou obcecada com isso. Eu sempre
estou assim, eu não posso olhar.
Literalmente, na maioria das vezes, eu
estaria encarando essas garotas [ela
aponta com a cabeça], mas eu nem olhei
para elas.”
“Não pode arriscar contato visual com
estranhos, não é?”
“Sim, porque você estaria deixando que
eles entrem. Mas ao mesmo tempo eu
penso: ‘O que, eu não quero deixar
ninguém me conhecer?’ E, honestamente,
eu sou super verdadeira com as pessoas.
Incrivelmente. Se uma pessoa é realmente
legal e quiser conversar, eu fico e
converso o dia inteiro.”
O garçom retorna e Stewart abre o seu
cardápio, rapidamente olhando as opções.
Enquanto ela está ocupada fazendo isso,
eu vou dizer qual é a “coisa” dela: que ela
não gosta de ser famosa ou que ela não
gosta de ser famosa o suficiente, ou que
ela é um pouco ingrata porque ela não
aproveita o suficiente a fama que nós, o
público, demos a ela. Pelo melhor que
posso dizer, ela tem essa reputação por
muitas vezes não dizer “Xis” para as
câmeras. A minha percepção de Stewart é
que ela é naturalmente uma pessoa
tímida, então ela casualmente se encolhe
com a atenção que ela recebe, e uma
pessoa naturalmente honesta, então ela
pode ligar para isso em um instante. E,
okay, talvez ela seja naturalmente rebelde,
também. E espíritos rebeldes estão em
escasso em Hollywood. Minha aposta é
que Stewart nem sempre é legal com a
mídia porque ela sabe que o preço de ser
legal é muito alto. Você dá para a mídia o
que eles querem e eles pegam, pegam até
que você se perca.
Stewart expia seu cigarro de mais cedo
com uma salada de couve. Ela é uma
garota local, nascida e criada em San
Fernando Valley, seus pais estão na área
do show business: sua mãe é uma
supervisora de roteiros e seu pai é um
gerente de palco e produtor de TV.
Stewart decidiu muito nova que queria ser
atriz, não pelo desejo de atenção e sim
por querer um emprego. “Eu queria ir
trabalhar com meus pais e ter algo para
fazer,” ela diz. “E a única coisa que você
pode fazer quando criança, é ser ator. Eu
via as crianças no set e perguntava ‘O que
é isso? Por que elas estão aqui?’” Sua
família lhe mostrou como era a indústria e
ela manteu seu pensamento.
O sucesso veio rápido. Com onze anos, ela
apareceu em The Safety of Objects. Com
doze anos, foi a vez de Panic Room, como
a filha de Jodie Foster. Stewart teria que
esperar até o seu aniversário de dezoito
anos por Twilight e a super fama, embora
quando ela assinou o contrato, ela
pensou, e com boas razões, que era um
indie – o elenco quase todo desconhecido
e dirigido por Catherine Hardwicke.
“Quando você percebeu o quão grande
seria Twilight?” Eu pergunto.
“No dia da estreia do filme, havia uma
foto minha no New York Post, eu acho. Eu
estava sentada na varanda da frente
fumando um cachimbo com o meu ex-
namorado e meu cachorro. Eu fiquei tipo
‘Oh, merda, agora eu tenho que prestar
atenção nisso.’”
Ela admite que a fama repentina foi muito
para aguentar: “Eu ainda não tinha
esculpido meu espaço e as pessoas ainda
não tinham se acostumado comigo. Foi
muito difícil. Eu não dava entrevistas
muito bem, eu estava muito nervosa. As
pessoas não responderam muito bem a
isso.”
Nos últimos anos, tudo voltou para uma
escala menor com os projetos mais
íntimos que Stewart fez antes e durante a
saga Twilight, com Snow White and the
Huntsman sendo uma notável exceção. Ela
tem dois filmes saindo no final desse ano,
Camp X-Ray de Petter Satler e Clouds of
Sils Maria de Olivier Assayas.
Eu pergunto para ela quem ela está
namorando por esses dias. Stewart é
educada sobre isso – certamente mais do
que mereço – mas me deixa saber que sua
vida profissional é precisamente isso, uma
postura que eu acho pessoalmente
admirável, mas profissionalmente
frustrante. Ela está disposta a discutir em
termos abstratos como uma vida pessoal
é possível para ela: “Eu só tenho que ser
muito consciente. Leva um pouco da
natureza impulsiva da vida fora da
equação, mas eu –”
Stewart é interrompida com o barulho de
mensagem de texto. Enquanto isso vou
dizer outra coisa sobre ela: não há uma
variedade dramática, é a mesma em todo
filme. E apesar de ser inegável que cada
personagem que ela incorpora tenta
assemelhar-se com outro, eles não são
idênticos. Stewart está ciente de suas
limitações: “Algumas pessoas tentam fazer
aquela coisa onde você cria o
personagem. Eu não posso ser ninguém
mais do que eu mesma. Se eu não posso
simpatizar com algo que meu personagem
faz, é um problema. E algumas vezes eu
tive diretores que ficavam ‘não é você,
Kristen, é o personagem.’ E eu fico tipo
‘essa é a coisa mais preguiçosa que você
pode me dizer. Sou eu.’
Ela envia sua mensagem de texto e nós
conversamos por mais alguns minutos. Eu
faço sinal para a conta e nós caminhamos
para o lado de fora. Eu sinto que ela quer
fumar, mas está relutante em acender o
cigarro, já que estou visivelmente grávida.
Assim que nós nos despedimos, ela pega
suas chaves e eu peço para a
recepcionista chamar um táxi para mim.
Enquanto espero, olho para fora e lá está
Stewart com seu cigarro, encostada em
seu carro. Assim que termina, ela entra do
lado do motorista e dá partida para o
trânsito de Culver. A princesa da calma.
Entrevista completa de Kristen para ELLE EUA!
17/08/2014
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